Este livro foi uma grande surpresa.
Primeiro, temos Fedra, uma antropóloga que passou mais de vinte anos nalguns dos piores lugares da Terra: Ruanda, Kosovo, Iraque, Mali, entre outros. Regressada a casa e em ambiente de pandemia, o seu trabalho no Instituto de Medicina Legal consiste em investigar casos de abusos sexuais (incluindo a menores) na dark web.
Depois temos Stefan, um antigo repórter de guerra que vive numa cabana e criou um santuário para lobos que é fictício mas baseado no Centro de Recuperação do Lobo Ibérico de Mafra (se nunca visitaram, não percam a oportunidade porque é uma experiência incrível).
Temos ainda Leonor, uma adolescente de 14 anos que, após ser vítima de um crime sexual, decide ir viver para o campo com a sua tia Freda, onde as duas acabam a fazer voluntariado com os lobos. Basicamente, o seu explicador de matemática partilhou fotografias íntimas dela com sabe-se lá quantas pessoas… Helena, a mãe de Leonor e irmã de Freda, não consegue lidar com o trauma da filha e, cansada de estar fechada em casa com o marido em plena pandemia, desenvolve um caso com outro homem.
Além disso, temos ainda Amélia, a mãe de Helena e Freda, que sofre de Alzheimer e guarda a chave do grande mistério deste livro.
Já tinha gostado de Apneia e de O meu pai voava, mas este livro é muito bom e, sem dúvida, o meu preferido da autora. Personagens muito bem construídos, cheios de camadas, com um desenvolvimento interessante e envolvente. Além disso, nota-se que Tânia Ganho fez um trabalho de pesquisa notável para a construção de toda a narrativa (inclusive fazendo voluntariado no centro de recuperação de lobos de Mafra). Queria ler para saber o que ia acontecer, mas queria que o livro durasse o máximo de tempo possível. Recomendo muito.
Fonte: Mar de Maio