O jardim dos Finzi-Contini de Georgio Bassani

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Desconhecia por completo este autor italiano até ter ouvido uma booktuber brasileira falar sobre ele.

Infelizmente, as edições da Quetzal estão esgotadas, mas encontrei este no tradestories.

Neste livro, o narrador (que também é o autor do livro uma vez que à história é semi-autobiográfica) conta-nos a história real de uma família muito rica, muito importante e judia formada por um casal e dois filhos (um rapaz e uma rapariga).

O narrador vai ter um amor não correspondido com a filha do casal (que, a certa altura, se torna assédio como o próprio narrador admite), fazendo, muitas vezes, com que o livro pareça sobre a juventude. No entanto, estamos nos anos do fascismo em Itália. Mussolini (ou o duce) já está no poder e, não tarda, sabemos que esta família judaica, por muito rica que seja, não vai ter um final feliz (não é spoiler, o autor revela o final logo no prólogo).

Inicialmente, os sinais de algum antissemitismo são muito subtis. Ir para a sinagoga de noite. Ter cartão de membro do partido fascista porque sim (os Finzi-Contini eram a única família na região que não tinha e que desprezava Mussolini e destacavam-se por isso). Além disso, educavam os filhos em casa, o que era visto como anti-patriótico.

O jardim da família torna-se o refúgio dos jovens judeus de Ferrara quando, em 1938, as leis raciais os excluem do clube da cidade (assim como de formar matrimónios mistos com pessoas arianas, de frequentar escolas e universidades do Estado, de figurar nas listas telefónicas, etc). Há uma cena forte em que o protagonista é expulso de uma biblioteca pública que frequentava para trabalhar na sua tese por ser judeu. Outra em que o seu pai é expulso do partido de Mussolini pelo mesmo motivo. Assim, os judeus tornam-se indesejados. 

Assim, é no jardim dos Finzi-Contini que convivem e jogam ténis enquanto a nuvem negra do fascismo se vai aproximando cada vez mais. Até apanhar muitos deles.

– Espero que não me queiras repetir a história do costume – interrompi-o, neste ponto, abanando a cabeça.

– Qual história?

– A de que Mussolini é melhor do que Hitler!

– Já percebi, já percebi – disse ele. – Mas tens de o reconhecer: Hitler é um louco sanguinário, ao passo que Mussolini será se quiseres, maquiavélico, e vira casacas, mas…

(…)

olhava um a um, à volta, tios e primos, grande parte dos quais, dali a alguns anos, seriam engolidos pelos fornos crematórios alemães e não imaginava, é claro, que eles acabassem assim

É um livro lento (às vezes, demasiado quando os dois personagens – Georgio e Micol se vão encontrando e desencontrando) que ganha em tudo o que está escrito nas entrelinhas. De tudo o que já li sobre a Segunda Guerra Mundial (que não foi muito), esta é uma perspectiva histórica completamente diferente e muito interessante.

Há também um filme muito conhecido de 1970 baseado no livro.

Fonte: Mar de Maio

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